O projeto do primeiro carro a hidrogênio desenvolvido no Brasil, denominado Vega, começou na década de 1990, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O engenheiro mecânico Eduardo Gurgel do Amaral e o professor Ênnio Peres da Silva se uniram para criar um veículo inovador, em um período em que apenas países como Estados Unidos, Japão e Alemanha exploravam a tecnologia de células de combustível a hidrogênio. O objetivo do Vega era desenvolver uma tecnologia nacional que resultasse em um veículo com emissão zero de poluentes.
Utilizando uma antiga Kombi como base, a equipe adaptou diversos componentes doados por empresas, como motores e partes de carrocerias de outros veículos. O nome Vega foi inspirado na estrela mais brilhante da constelação Lira, carregando também o significado humorístico de "Veículo Elétrico Gurgel do Amaral". O design incluía uma carroceria estilizada e uma capota com placas solares.
O funcionamento do Vega era ousado e combinava energia solar e hidrogênio para gerar eletricidade. O sistema funcionava com um gerador movido a hidrogênio que alimentava baterias, conectadas a um motor elétrico que impulsionava o veículo. Apesar de suas limitações, como uma autonomia de 50 km e velocidade máxima de 50 km/h, o projeto era considerado revolucionário.
O destaque do projeto ocorreu em 1994, quando foi apresentado no Salão do Automóvel, atraindo atenção da mídia e do governo, incluindo os presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.
Com um financiamento de R$ 400 mil em 2004, o Vega passou por melhorias significativas e foi relançado como Vega II, integrando uma célula de combustível mais eficiente. Entretanto, a diminuição do interesse pelo hidrogênio levou ao abandono do projeto, e em 2016, o Vega começou a se deteriorar ao ar livre.
Atualmente, o Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (NIPE) da Unicamp busca recursos para restaurar o Vega, com um custo estimado de R$ 75 mil. A restauração do veículo simboliza não apenas o potencial da inovação brasileira no setor automotivo, mas também a luta pela sustentabilidade em tempos desafiadores. O projeto Vega nos inspira a acreditar na possibilidade do desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e a sonhar com um futuro mais verde e inovador.
Você sabia que o primeiro carro a hidrogênio nacional foi desenvolvido por um projeto acadêmico da Unicamp na década de 1990? Sim, é verdade! Mesmo sem os recursos avançados que temos hoje, um grupo de pesquisadores brasileiros desafiou as limitações tecnológicas da época e criou um veículo inovador, o Vega. Neste artigo, vamos relembrar essa história fascinante e discutir o impacto que ela poderia ter tido no cenário automotivo nacional e mundial.
O Começo do Sonho

Tudo começou com o engenheiro mecânico Eduardo Gurgel do Amaral, que, mesmo sem parentesco direto com João Augusto do Amaral Gurgel, fundador da Gurgel Motores, compartilhou o mesmo sonho: criar um veículo utilizando tecnologia nacional. Em 1992, enquanto cursava o mestrado em engenharia elétrica na Unicamp, Eduardo encontrou no professor Ênnio Peres da Silva, coordenador do Laboratório de Hidrogênio, o parceiro ideal para transformar essa ideia em realidade.
Na época, Estados Unidos, Japão e Alemanha eram os únicos países pesquisando sobre células de combustível a hidrogênio. O objetivo era ousado: desenvolver tecnologia nacional que resultasse em um carro com emissão zero de poluentes.
A Base do Vega

Como começar um projeto tão ambicioso sem recursos? Eduardo encontrou uma solução criativa. A antiga Companhia Energética de São Paulo (CESP) doou uma Kombi velha – ou melhor, sucata. O chassi foi aproveitado como base do projeto, e, aos poucos, outras empresas doaram componentes essenciais. Entre as contribuições:
- Motor elétrico da WEG;
- Baterias de caminhão da Delco;
- Gerador da Yanmar;
- Partes da carroceria da Cedros.
O projeto ganhou o nome de Vega, inspirado na estrela mais brilhante da constelação Lira. Eduardo brincava que o nome também significava “Veículo Elétrico Gurgel do Amaral”.
Montagem do Vega
Na oficina do Laboratório de Hidrogênio, a equipe começou a dar forma ao Vega. O chassi da Kombi recebeu uma carroceria composta por peças reaproveitadas de outros veículos:
- Faróis, lanternas e para-choques de Monza;
- Portas e laterais traseiras de Kadett;
- Vidros produzidos sob medida pela Fanavid.
Inspirado na Chevrolet Lumina, Eduardo optou por um estilo de picape para facilitar a demonstração do sistema de alimentação a hidrogênio. A estética ficou completa com uma pintura personalizada, faixas decorativas da 3M e rodas cromadas modelo Esfiha. Em 1994, o Vega estava pronto, incluindo uma capota marítima feita com placas solares.
Como Funcionava o Vega

O sistema do Vega era inovador para a época. Ele combinava energia solar e hidrogênio para gerar eletricidade. O funcionamento era o seguinte:
- Um gerador de combustão interna, movido a hidrogênio, produzia eletricidade;
- Essa energia recarregava as baterias, ligadas a um inversor de corrente;
- O inversor alimentava o motor elétrico, responsável por movimentar o veículo.
Embora os números de desempenho fossem modestos – autonomia de 50 km e velocidade máxima de 50 km/h –, o ineditismo do projeto o tornava revolucionário. No entanto, o peso de 1,5 tonelada e a direção pesada dificultavam a condução.
O Reconhecimento
O ponto alto do Vega foi sua apresentação no Salão do Automóvel de 1994, onde atraiu a atenção do então presidente Itamar Franco. O projeto ganhou notoriedade, aparecendo em diversos veículos de mídia. No ano seguinte, o carro foi exposto em Brasília, onde também foi apresentado ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
A Evolução para o Vega II

Em 2004, com um financiamento de R$ 400 mil do Ministério de Minas e Energia, o Vega recebeu melhorias significativas. Ele foi equipado com uma verdadeira célula de combustível a hidrogênio, novas baterias e um motor elétrico mais eficiente. A capota foi substituída por uma estrutura de fibra com laterais de vidro, permitindo a visualização da célula. Esse modelo atualizado foi batizado de Vega II.
A ideia era avançar para o Vega III, que incluiria um reformador de etanol para produzir hidrogênio diretamente no veículo – uma tecnologia que ainda hoje é discutida no setor automotivo.
Declínio e Restauração

Infelizmente, o interesse pelo hidrogênio como combustível diminuiu, e o Vega foi gradualmente abandonado. Em 2016, após a transferência do Laboratório de Hidrogênio, o carro foi deixado a céu aberto e começou a se deteriorar.
Hoje, o Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (NIPE) da Unicamp busca recursos para restaurar o Vega. O custo estimado é de R$ 75 mil, um valor pequeno diante do seu potencial histórico e tecnológico.
Um Futuro Que Poderia Ter Sido
Imagine se o Vega tivesse ultrapassado os muros da universidade e chegado às garagens dos brasileiros. Hoje, poderíamos estar abastecendo carros elétricos a hidrogênio com etanol, tecnologia que teria sido 100% nacional. Veículos como o Toyota Mirai poderiam ter sido realidade aqui há décadas.
Conclusão

O projeto Vega não foi apenas um carro experimental; ele simbolizou o potencial do Brasil para inovar no setor automotivo. Com sua restauração, a Unicamp pretende relembrar que o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis é possível, mesmo em cenários adversos. O Vega nos ensina que, com criatividade e determinação, podemos alcançar o impossível.
Que tal sonhar novamente com um futuro sustentável e apoiar iniciativas como a restauração do Vega? Afinal, o progresso começa com ideias ousadas – e com pessoas como você, dispostas a acreditar nelas.